O Heavy Metal no Brasil?

O roqueiro, em geral, é um ser excluído da sociedade. Quando se diz isso, muitos não concordam e afirmam que determinado gênero ou “tribo” - fosse lá o samango que trouxe esse termo - não é bem assim. Em suma, se a pessoa não está rebolando o furingo no Funk, chorando e “evangelizando” ao som do Sertanejo “Universitário”, batucando com o pagode e, lá nos idos da década falsa (a década de 90), se balançando com o Axé, provavelmente está batendo o pé ou a cabeça ao som de alguma banda. E é na música pesada que eu quero chegar com essa dissertação baseada no mais puro, medíocre e breve Senso Comum.

Vamos estritamente ao nosso mundo, ao terceiro, ao Brasil, ao chão onde se deve encarar a cultura pluralizada no seu mais alto grau, diferente de qualquer outra nação da face da Terra. Este país é um lugar cheio de “países” dentro de si. Não é como uma Espanha, que possui meia dúzia de cantos bradando contra Madrid; ou como os EUA, que mostram uma falsa figura de país multicultural, por simplesmente ter certa independência entre seus Estados. Definitivamente o Brasil é um país que poderia ser repartido em vários territórios independentes devido às raízes e costumes locais, mutações com o tempo e etc.

Notadamente, temos uma forte influência midiática desde a época da vinda da família Real, passando pelo “embranquecimento do país” na pós-libertação dos escravos, bailando pelo período “café com leite” e chegando nos termos onde o Brasil em si, precisa baixar a cabeça para São Paulo e Rio de Janeiro. Poderíamos parafrasear a Globalização dentro do nosso país como “Sudestização”? Excluindo Minas e Espírito Santo, obviamente.

Pois bem, a imagem do roqueiro brasileiro sempre esteve atrelada à São Paulo e, quando Brasília teve o seu “movimento”, as bandas tiveram que despencar território e se dobrar à “Sudestização”, mostrando que, se você não estiver nessa ponte aérea Rio-São Paulo, não conseguirá nada. Isso acabou dando poder não só à indústria que coordenava esse mercado… Deu poder ao público dessa região.

Mas se o roqueiro, em geral, é um ser excluído da sociedade, o que dirá do headbanger ou metaleiro, como queiram?

Longe de buscar um estereótipo para um grupo composto por seres humanos, o headbanger brasileiro de hoje busca se envolver em algo mais do que apenas encher a cara de cachaça, escutar música e ir a shows de bandas que curte. Por quê? Porque se ele está numa rede social e inserido neste grupo, provavelmente quer manter o terceiro e angariar o quarto degrau que o senhor Abraham Harold Maslow desenhou em sua Hierarquia das Necessidades. O headbanger quer manter os laços sociais, mas também busca a auto-estima em seu topo, a confiança, conquista, respeito dos outros, enfim… Entretanto, há uma distorção não só no meio da música pesada, como em todo aquele público que vive de “música do passado”.

Entre todas as teorias embasadas em Senso Comum que podemos categorizar o público, há uma que gosto muito de utilizar: A Consciência do seu lugar no Tempo e no Espaço. Não vou entrar aqui em trajes, porque tive uma avó que dizia: “A moda quem faz é você”; e um Capitão que deixava claro: “Não deixe o ambiente te fazer. Faça você o seu ambiente!”. Entretanto, no geral, o headbanger gosta de viver uma época em que ele desconhece em sua totalidade. É o que psicólogos chamam de Sensação. Pegam uma sensação de determinada época e querem pluralizar aquela época como se fosse magnífica. Isso acontece atualmente no nosso cenário político.

Mas o headbanger esquece de um detalhe: não tem 30 anos e nós vivíamos uma época onde negros representavam (e ainda representam) ausência de padrões e desvios comportamentais, mulheres serviam como objeto e homossexuais eram apenas alvos de descontentamento com qualquer distúrbio social. Para o bem ou para o mal, felizmente estamos vivendo cada vez mais com intensidade os nichos de mercado, onde aqueles que nada representavam acabam tendo suas vozes ouvidas. E isso, para um grupo de pessoas que não tem um ambiente plural em sua mente, se torna agressivo.

Seguindo essa linha de raciocínio, imiscuindo com a hierarquia das necessidades, parte dos headbangers cai num “looping paradoxal”, onde querem respeito, querem manter laços, mas não querem agregar. Mantém a ideia excludente de épocas passadas, mas querem “aparecer”.

Ainda seguindo esta linha, levamos essa mesma parcela de headbangers ao anacronismo dentro deste “looping paradoxal”. Pois como as redes sociais se tornaram o campo de habitação mais frequente na humanidade e essa parcela busca mostrar sua cara de qualquer maneira, preferem antes atacar um desapreço musical com mais intensidade, do que propagar uma predileção contemporânea do seu nicho. Ele se enclausura em gostos atemporais aos seus vividos para embasar seus ataques, em detrimento de uma temática hodierna.

O Heavy Metal sobrevive por causa do seu “mainstream” e milhares de pessoas que não estão nem aí para o que será do gênero após o “fim das máquinas”. O Heavy Metal não agrega, não é plural e não mais agride ao padrão. Ele criou um padrão em si graças ao seu público e se nega, em seu interior, a desconstruir as estruturas.

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