As bandas de Metal estão com medo de se expressar?
A estranha conduta de bandas que se fundem em um comportamento discreto e uniforme.
Há algum tempo, vi o Clemente Magalhães falando sobre humanização de marcas e o quão fácil deveria ser para bandas cumprir com esse papel, já que bandas são feitas por seres humanos. Suas músicas, seus trajes, suas expressões deveriam ser reflexo daquilo que essas pessoas são, mas quando olho para o Metal… Vejo apenas bate-boca sobre as mesmas “trends”.
Sei muito bem sobre a importância de se debater certos assuntos. Afinal, a vida é política. Sei também que as narrativas estão mais em voga no mercado do entretenimento, uma direção meio Gary Vaynerchuk/Carmine Gallo. No entanto, quando olho para o cenário, sobretudo o cenário brasileiro, parece que vejo a Câmara dos Deputados com representantes de seus partidos. As bandas deixaram suas músicas quadradas, com cheiro de anos 90/2000 e arriscam pouco, embora sua massa crítica, por exemplo, desça a marreta sobre estilos que remetem a sons tidos como “Clássicos” — Quem diria, hein?
Os discursos parecem ter sido extraídos de algum Simpósio, onde assinaram um acordo para o que se deve ou não vociferar. Então, seres perfeitos mostram suas caras em redes sociais e palcos Brasil afora. Ninguém tropeça, ninguém espirra, ninguém caga. Um receio generalizado que os conduz numa busca digna de um monge budista.
Rede social
Mesmo as bandas que se dizem revolucionárias e antissistema incorporaram o conceito empresarial quando o assunto é rede social. Suas feeds são um belo exemplo de portfólio. Tudo bonitinho, respeitando a paleta de cores e toda aquela falácia que promete aumentar o engajamento, mas que, na verdade, faz a banda parecer um filho do banco Itaú.
Com receio de desagradar o Deus Algoritmo e seus fãs, as bandas não se deixam mostrar, não se permitem explorar as milhares de facetas — mesmo que moderadamente, já que rede social não é mesa de bar — que os seres humanos que as compõem detém.
Rede social não funciona como um portfólio. É um lugar para interação e isso significa troca. Suas falhas, seus temores, suas conquistas, seus resultados positivos e negativos podem e devem ser compartilhados ali.
Zé Twitteiro
Esse é um espinho que fixou na sola do pé da comunidade Metal há mais de 10 anos e parece que não sai nem a pau. De tempos em tempos, esse exemplar de Gárgula de Catedral aparece com seus clichês e bordões, recebendo atenção e fazendo as bandas temer represália.
O Zé Twitteiro, aquele samango chato pra caralho, que se diz eclético mas torce beiço pra certo tipo de som, frequentador apenas de shows de estádio e tributos em bares de Rock, acredita realmente que foi abençoado pelos céus para espalhar os novos mandamentos à comunidade Metal, mesmo se dizendo não mais pertencente ou não atuando no cenário.
Frequentes são as citações em algo que desagrada todo o seu esplendor de “Good Vibes”: “É por isso que o Metal morreu!”, “O Metal não cresce por ser desunido!”, “Deveria ser normal gostar de tudo!” Um ser que não frequenta, não consome, não atua, está longe do formigueiro, mas realmente acredita saber o que é melhor ou não à comunidade.
Por ser frequente na maldita rede social dos Bois Na Sombra, ele traz receio às bandas, que parecem fazer de tudo para agradar a esse exemplar que está pouco se fodendo para o cenário em geral, resultando em expressividade plastificada e roteirizada. Abdicam em fornecer atenção aos verdadeiros adeptos do estilo: aqueles que compram, aqueles que comparecem, aqueles que engajam positivamente para as bandas.
Síndrome do Guia Turístico
Com o declínio do estilo nas últimas décadas, uma sombra começou a ser projetada não só sobre o Metal, como no Rock em geral: “A Morte do Estilo, caso não se renove!”
Isso pode ser interpretado de várias formas. No entanto, como a galera mete papo torto, mas quer os canapés do mainstream a todo custo, não cansa de forçar tendências com “o som mais moderno que possa encontrar”, mesmo que isso se distancie de guitarras distorcidas presentes e vocais firmes.
Renovação pode significar muita coisa, parceiro! Pode, por exemplo, significar dar espaço à molecada nos palcos — algo que não vejo com frequência. Pode significar abdicar de nomes pesados, em prol de nomes mais novos. E aqui nós temos algo que incomoda.
Esses significados citados trazem um problema não só para o mercado, mas também para o Zé Twitteiro supracitado. Assim, as bandas atuais dobram seus joelhos, inclinam suas cabeças e rezam para os mesmos santos o tempo inteiro. Porque se não for assim, se desagradar aos balas do mercado — mesmo que use o discurso de ser independente — e aos Zés Twitteiros, as bandas não sabem como agir.
Então, sob um desfocado conceito de guia turístico, as bandas abrem seus sorrisos amarelos na esperança de agradar a tudo e a todos, para cumprir com um falso check-list sobre renovação.
Parceiro! Se o samango não chegar pelo som, daqui a pouco ele mete o pé e só faz uma visita quando o discurso voltar a ser trend. Sem consistência, essa renovação é um telhado furado em dia de temporal.
Mainstream
Tudo isso pela busca do Mainstream. Essa Cidade Voadora suspensa acima da Cidade de Ferro, como bem ilustrado em Gunnm (ou Alita: Battle Angel). Na trama, há uma passagem que mostra bem esse comportamento das bandas no personagem Hugo que, ao tentar chegar à Cidade Voadora pelos cabos de sustentação, acaba sendo retalhado pelo sistema de segurança.
“Olha lá! É mais um que não quer que as bandas cheguem no mainstream!” Crítica rasa e burra de pessoas que não se aprofundam no contexto global de mercado. Michel Maffesoli lançou “O Tempo das Tribos” em 1988. Chris Anderson lançou “A Cauda Longa" em 2006. Seth Godin lançou “Tribos: Nós Precisamos que Vocês nos Liderem" em 2013. Há mais de 30 anos se discute o conceito de comunidade e a ruptura com esse mainstream que diz falar para todo mundo, mas que na verdade não fala para ninguém. É frágil, é curto e muitos pagaram por uma busca cega pela Cidade Voadora.
Hoje, o debate no mercado do entretenimento sobre criação de comunidade está em alta graças às redes sociais, algo que o Metal, no Underground, sempre bateu na tecla.
Pertencimento
Músicos são artistas e artistas exportam seus sentimentos. A necessidade de pertencimento dos fãs os fazem se conectar com as nuances dos artistas. O discurso plastificado e/ou o silêncio das bandas de Metal ilustram mais uma necessidade de pertencimento destes artistas, do que propriamente o ato de expor suas expressões. Um medo, um receio, um cagaço com ruídos nas reações de fãs potenciais, evitando extrair de si, tudo aquilo que pode.
O medo de gerar controvérsias e a comodidade por um confronto com algo intangível em suas narrativas se alia à ausência de riffs poderosos e melodias vocais repetitivas há 30 anos. Assim, trazem um interesse passageiro, refletido em gráficos de plataformas de Streaming onde há picos nas semanas subsequentes aos lançamentos, com quedas bruscas posteriores.
A busca por uma criação de comunidade distante do fã de Metal que vive a parada, distanciando-se daqueles que carregam os códigos do rolé, gera um interesse passageiro.
É aquela história: Vai vender carne, xingando quem gosta de churrasco? Tá de sacanagem, né?
Que texto incrível!!!
ResponderExcluirValeu, parceiro!
ExcluirBoa Terry!!! Texto para refletir em cada tópico. Me chama a atenção o ponto da renovação que é top trends do mundo real na rodas de roqueiros, principalmente os 50+.
ResponderExcluirVejo uma "liga" e investimento $$$ em outros segmentos (ex: Pagode e Sertanejo) que não vejo no Rock...o tal "um puxa o outro" que tem funcionado ha tempos nestes segmentos. E assim vamos torcendo para que possamos ver moleques talentosos aparecerem e inspirarem novas gerações de roqueiros. Abcs meu amigo
Vejo isso muito difícil no Rock porque ninguém quer abrir mão do próprio protagonismo. A coisa embaça demais.
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