Dia Internacional do Rock N' Roll


Movidos por uma paixão inconsciente, amamos este gênero musical, o qual, embora alguns de nós mareamos em outras águas, sempre retornamos ao nosso mar. Mas, por favor, façamos sempre reflexões…


Confesso que exauri minhas forças a ponto de encontrar uma confrontação à crítica de que o Dia Internacional do Rock só é comemorado no Brasil. Apesar de haver afirmações alegando que tudo começou com a citação de Phil Collins (“Este dia deveria ser considerado o Dia Mundial do Rock!”) durante o Live Aid em 1985 e a homenagem em si vir exatamente por conta deste evento, os veículos internacionais não celebram o dia 13 de Julho como o Dia Internacional do Rock de fato. Há quem diga que este dia ganhou força comemorativa por parte dos roqueiros em meados da década de 90, quando duas rádios de Rock paulistanas (89FM e 97FM) passaram a fazer alusão à data.


Rock N’ Roll para toda eternidade.


“O Rock N’ Roll é um caminho sem volta”, dizem muitos. E de fato é, para aqueles que tomaram o gênero musical para si, com toda a integridade da alma. Não importa o que você faça da sua vida, você sempre estará lá nadando na sua praia favorita. É como uma criança que nasce com o umbigo enterrado em seu terreno. Ela cresce, viaja o mundo, mas volta pra casa. Sempre volta. Embora conheçamos milhares de pessoas com o discurso “Isso aí eu escutava quando era adolescente, depois eu cresci”, aquele que leva o gênero musical para a sua vida, por mais que flerte com outros gêneros até contrastantes por diversos motivos, nunca larga mão do Rock N’ Roll. E isso é facilmente comprovável.


As águas turvas.


O gênero teve grande visibilidade na famigerada década de 80, onde inclusive a música Pop (o gênero) flertou diversas vezes com o som das guitarras distorcidas e pancadas rítmicas fulminantes. Com isso, a alta difusão do gênero e seus subgêneros levou seu nome para o mundo inteiro da maneira mais torpe possível. Milhares de pessoas ao redor do mundo passaram a consumir o Rock N’ Roll em larga escala, muitas delas sem entender o que de fato estavam consumindo, transformando seres humanos em semi-deuses, do jeitinho que os governadores do mercado gostam.

Mas passada a euforia do mercado, rapidamente o apoio midiático minguou, o gênero foi ficando de lado até se tornar uma cultura depreciativamente tipificada como alternativa.O roqueiro que antes era o agressivo e questionador, passou a se tornar apenas um ser estranho.

No entanto, como a minha avó sempre dizia: “A moda sempre volta”. Sim. Não com a mesma força, não com a mesma cara, mas ela sempre volta. E assim a imagem do roqueiro estranho passou a ser orientada como o cara descolado. Vendo pelo lado do mercado, um simples tênis All Star Converse, símbolo do roqueiro em muitos veículos, entre 2001 e 2005 teve o seu preço final inflacionado em 100%. Daí pra frente, não estacionou num valor acessível a todos. O roqueiro ganhava uma cara nova.

Como eu já pincelei em várias vezes em alguns textos, a coisa toda mudou de figura, ao menos aqui no Brasil, após o Infográfico do KANTAR-IBOPE, intitulado Tribos Musicais, de 28 de Outubro de 2013. Nele, algumas informações a respeito dos roqueiros foram determinantes para o mercado encarar o Rock N’ Roll no Brasil.

Segundo o Infográfico, apenas 31% da população era ouvinte de Rock no Brasil, possuíam entre 25 e 34 anos e, curiosamente, 52% eram da classe AB. Tal infográfico foi difundido em larga escala pelo país, onde não consideraram um dado relevante. Logo no início da pesquisa - que era a respeito da frequência com que se escutava rádio no país - há duas observações: a primeira diz que os 73% da população que ouviam rádio eram de capitais e regiões metropolitanas; a segunda diz que era baseada no que os entrevistados haviam escutado nos últimos 7 dias. O Infográfico foi um prato cheio para o surgimento de incontáveis blogueiros especialistas no gênero surgirem com matizes de verdades pela rede. O Rock, no Brasil, tornava-se definitivamente um lugar hostil para um simples garoto de periferia que desconhecesse o gênero.


O roqueiro vacila… E vacila com força.


Imbuídos sempre por um espírito saudosista, geralmente o roqueiro ostenta seus símbolos com orgulho. Hoje não mais como outrora, onde era comum identificar um roqueiro através de seus estereótipos. No entanto, ainda figura um certo ar petulante no que diz respeito ao comportamento de outras pessoas e seus gostos musicais. E é aí que ele cai na própria armadilha.

Decerto, havia um preconceito com o ouvinte de Rock no passado - e ainda há, sobretudo aqui onde a luz não bate. E o roqueiro leva isso para o coração. Inúmeros músicos de outros gêneros que tentaram posteriormente figurar no Rock sofreram com o simples fato de ganharem alguma fama em outro gênero e, subitamente, querer mostrar sua cara no Rock N’ Roll. Ou quem não lembra do sertanejo Hudson e seu álbum voltado ao Rock?

Mas além de virar a cara para o artista que por um milagre dos deuses, diz que sempre curtiu Rock N’ Roll e busca um trabalho voltado ao gênero, o roqueiro vai além, ele deprecia um anônimo que não entende absolutamente nada de Rock, aquele critica pejorativamente sem conhecer. Este fatalmente se tornará um dos piores inimigos do roqueiro. E aliando as consequências do Infográfico do KANTAR-IBOPE a este comportamento natural do roqueiro temos a fórmula perfeita para que o Rock N’ Roll se torne apenas produto exclusivo daqueles que “foram abençoados com a sorte dos deuses em gostar de Rock desde pequeninho”.

Enquanto outros gêneros seduzem o público com seus temas minimalistas, muitos até fúteis, o Rock, no Brasil, coloca-se em um altar onde os gentios não podem tocar e, se aquele simples garoto da periferia mencionado acima não tiver a sorte de possuir um “tio roqueiro doidão”, provavelmente ele jamais saberá ou entenderá o que é Rock N’ Roll de verdade, justamente porque os “soldados do Rock” não aceitam conversão. Claro, há pouquíssimas exceções.

Saindo dessa visão macro do Rock com respeito aos outros gêneros e seus ouvintes e internalizando a coisa, vemos mais comportamentos no mínimo, curiosos. Ou você nunca se deparou com o famigerado “Troo”? Não vale a pena me estender sobre o ser que se imbui de um espírito avassalador, advindo dos confins da Terra, que o emana de poder para vociferar todo tipo de leis e verdades a respeito do Rock, justamente porque possui todos os álbuns, tem o pleno saber das vidas de seus ídolos e, por isso, detém a capacidade de julgar todos que lhe convir. No entanto, esse ser é responsável por boa parte do comportamento do roqueiro.

Outro comportamento curioso do roqueiro - e que eu já martelei diversas vezes - é o do velho estereótipo visual. Hoje já bem batido devido boa parte da faixa de idade do público consumidor que, por estar inserido em um mercado de trabalho ainda muito conservador, tiveram de largar suas madeixas de lado. Ainda assim, há muitos olhos tortos para aqueles que não possuem aquele velho estereótipo mostrado quando se digita “Roqueiro” ou “rocker” no Google Imagens.

Ainda há o velho costume de fazer beiço torto às bandas novas que figuram em seus gêneros. Também muito menos comum hoje. No entanto, devemos levar em conta que este é o comportamento natural do ser humano em geral.


As bandas e seus contrastes.


Embora a quantidade de sub-gêneros que há no Rock N’ Roll - e a consequente confluência de subgêneros para se criar mais subgêneros ao se formar uma banda - seja multifária, o comportamento das bandas não difere tanto do roqueiro em si, já que bandas de rock, em geral, são compostas por roqueiros, ora. Em todo caso, ao separar uma banda consagrada ou a se consagrar - devido ao claro envolvimento de produtores no que diz respeito à conduta de seus artistas - das bandas que figuram no já conhecido cenário underground, percebe-se o quanto a visão de agregar valor se perde em detrimento de paradigmas que compõem o comportamento do roqueiro. Pouquíssimos subgêneros dentro do Rock adotam uma postura mais receptiva, principalmente quando se depara com aquele público citado acima: o que não conhece absolutamente nada de Rock. Isso não só se torna um obstáculo para aquela banda, como para as demais, criando uma generalização estúpida do todo, sobretudo ao levarmos em conta os esforços daqueles que focam no Rock uma carreira musical.

Outro fato curioso que há no Rock - novamente o underground - é a não cooperação tão vista nos outros gêneros. De fato, não é dizer aqui que a vida em outros gêneros são só amores, afinal, são concorrentes brigando por fatias de mercado. No entanto, para que este mercado exista, necessita-se de uma cooperação no fomento da visibilidade destes concorrentes. As bandas parecem estar longe deste pensamento.


E aí? Comemorar ou não comemorar?


Definitivamente este texto não foi feito para dizer: “Hey, você! Ainda não tem escrúpulos?” A reflexão acerca do momento do Rock N’ Roll vai muito além apenas do que colocar o seu álbum favorito da sua banda favorita, enquanto bebe uma cerveja. Assim como Hércules, os semi-deuses do Rock vão deixar de existir um dia, onde apenas seus feitos ficarão na memória. Ao roqueiro, fica a missão de fazer com que este gênero cresça cada vez mais. Só o roqueiro é capaz disso. Embora a Cristiane Torloni tenha viralizado o “Hoje é dia de Rock, bebê!”, não é ela que está na frente de batalha.

O Dia Internacional do Rock, seja internacional ou não, não pode representar apenas um desfile de Dia da Independência, onde as pessoas vão a algum lugar comemorar um feito histórico, passado, que ficou em algum ponto da história e não volta mais. Ele precisa ser todo dia, precisa ser agregador, plural, democrático. Afinal, o Rock N’ Roll não foi feito para você guardar no seu guarda-roupas.


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