TEIMOSO OU OBSTINADO?

Terry Painkiller

Minha mãe dizia que eu era teimoso. Muitas vezes culpava a hereditariedade, parte paterna, por isso. Mais tarde, recebi o adjetivo por conta da astrologia. Engraçado. Poucas vezes me viram como obstinado. Preferi encarar dessa maneira o que chamam teimosia.

Aprendi com minha mãe que se deveria aprender a escutar. Numa analogia torpe a um tribunal, ela dizia que o advogado de defesa, se esperto, sempre teria a chance de ganhar o caso, por ser o último a falar, em defender. Mais tarde, conheci Jëy Séék’s - ou Jëy Douglas, para os mais recentes -, um dos que qualifico como meu irmão branco, uma pessoa que, só na presença te ensina a escutar. Assim a minha “teimosia” ganhou mais corpo.

Vergonha?

Nunca tive vergonha de perguntar sobre o que não sei ou não domino. Não acredito também ser isso uma virtude, encaro como um “macete”. O conhecimento, se passado, absorvido e conflitado sem ressalvas é de fato libertador. E aí entra a minha mãe de novo na história, pois ela dizia para sempre “ler nas entrelinhas”. Meu irmão sempre teve uma cabeça muito boa para guardar determinadas informações com tamanha precisão que daria inveja a um pesquisador de dados. A rivalidade sadia que mantivemos no decorrer da vida me fez criar um mecanismo para absorver e guardar informações, não com a mesma habilidade que ele, mas com alguma valia. Minha mãe entra na história novamente, por saber dosar essa rivalidade como um juiz de verdade, não como o que vemos por aí ultimamente.

Primeiro tiro

Assim que montei a minha primeira banda, tive problemas com apresentação. Não entendia nada daquilo, mas queria fazer aquilo. Não demorou muito e me limaram da banda. Mas “teimoso” como era, resolvi fazer o que “mamãe”, lá trás, sempre aconselhou. “Escute primeiro”. Pobre não tem dinheiro para alardear discurso meritocrata e fazer cursinhos disso e daquilo, sem que se tenha um “reembolso” a curto prazo. Então nada de cursinho de música pago, quando se tem de correr atrás do arroz e feijão. A via alternativa era procurar os cursinhos públicos. Os de música? Em todas as vezes que tentei, as senhas já estavam repartidas às 4h30 da manhã misteriosamente.

Dom não, por favor!

Mas eu era o “teimoso” e por isso parti para uma alternativa que nunca foi a recomendada. Meter a cara na raça. Com técnicas, cheguei a passar semanas sem voz, por abusar de técnicas sem conhecimento do meu próprio aparelho fonatório. Não sei como não arrumei um calo nas pregas vocais. Com gestão de bandas já foi mais na raça. E não… Não foi à base de biografias de bandas consagradas. Lembrando que não havia os “vídeos tutoriais” que hoje dominam a rede. Quem me conhece, sabe que não compartilho do argumento do “dom”. Na minha opinião - e aqui mais uma vez vem o senso comum - qualquer um pode ter excelência naquilo que quiser, desde que arrume uma maneira para superar os seus limites. OS SEUS LIMITES, NÃO OS DOS OUTROS. E por quê? Porque na maioria das vezes, você não estará em pé de igualdade com os seus “alvos escolhidos”. Só estaria arrumando problemas psicológicos com comparações bizarras, como uma galerinha por aí adora fazer em discursos rasos. Mas aí a minha teimosia só estava começando, na verdade. Porque cismei de montar uma banda de Heavy Metal, justamente um gênero que não tem na diversidade, uma característica.

A roda não para

Partindo na base do “soco em muro chapiscado”, conheci alguns do que chamam de produtores. Prefiro os termos promotores para uns e organizadores para outros. Enfim, alguns deles me ajudaram muito e aqui eu não poderia deixar de dizer o nome de Markus Roza. Sem qualquer distinção, ajudou-me com meu projeto, quando a maioria não tava nem aí. Lê-se maioria, por favor! Não estou generalizando. E é exatamente por isso que não arrumo e nunca arrumei quizumba com esse cara. Repito: Quando precisei, foi ele que me estendeu a mão. Minha já famosa teimosia continuou quando discuti com um desses “produtores”, dizendo umas verdades que os outros preferiam encarar como “Mal Necessário” e ouvi, no Rock, algo que só havia escutado em empregos formais: “Você só vai se prejudicar falando essas coisas pra esses caras!” Definitivamente essa foi a minha primeira grande decepção nesse meio. Percebi que até ali, no Rock underground, as pessoas também eram tão reféns de outras, quanto em qualquer outro meio. Mas o “teimoso” fez o quê? Bateu pé! Porque esse “teimoso”, enquanto não se vê fora da razão, não arreda pé. O tempo passou e de repente minha voz estava sendo ouvida lá no Japão, na Rússia, nos EUA, Alemanha e eu me vi refletindo: Em que aquele “produtor” poderia me prejudicar?

Uma mensagem

Eu gostaria de deixar uma mensagem a todas as bandas, público e produtores do cenário underground. Gostaria que todos, sem exceção, se vissem como uma parte da engrenagem e não como A PARTE da engrenagem. Todas as vezes que uma dessas engrenagens do relógio se sentiu mais do que a outra, o relógio parou, porque uma outra engrenagem desgastou demais. Cada um tem o seu momento para “aparecer” e isso deve ser sumariamente respeitado. Quando você vê um integrante de banda pilhado com o show, reflita muito bem antes de apontar o dedo e jogar o argumento néscio de “estrelismo”. Há uma grande diferença de estrelismo para uma cautela em deixar tudo perfeito para o público, casa e demais interessados. O “teimoso”, contra muitos, continua por aí escutando velhos argumentos estólidos. Mas sobretudo, continua ouvindo, absorvendo e conflitando para uma interpretação mais acertada à sua própria realidade. Amo vocês.

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