Cover x Autoral


Bands Kuudes Painos"Bands Kuudes Painos" by Mika Peltomaa is licensed under CC BY-ND 4.0
Já disse algumas vezes que esse tipo de discussão não deveria existir, tendo em vista que a realidade ambiental, apesar de envolver as mesmas pessoas algumas vezes, é muito distinta.

Brinco diversas vezes com essa revolta que rola entre parte da galera do som autoral contra a galera do som cover. Faço - ou fazia, tenho que ver ainda - parte destes dois mundos. Entretanto, quanto mais o tempo passa, mais me distancio do mundo do cover… E vou explicar o porquê do meu motivo mais adiante. O fato é que o ambiente do som cover não pode e nem deve ser confundido com o ambiente do som autoral. Compartilharei as minhas opiniões com você.

Bandas Cover

As bandas cover fazem um trabalho bastante significativo com relação à memória afetiva das pessoas, que se conectam com seus artistas veneráveis através daquelas pessoas que estão reproduzindo músicas e sensações. Com isso, possuem um poderoso argumento publicitário sob o signo das bandas que estão homenageando. Há bandas que investem um Rio Nilo na carreira, alavancando a sua imagem subjetiva dentro de um mercado severo e concorrido de bandas cover que homenageiam o mesmo artista. Por exemplo, a banda Children Of The Beast, cover do Iron Maiden.

No entanto, apesar da vantagem de estar representando uma banda já consagrada, a banda cover, em si, tem que provar diante o público que é competente para cobrir aquele artista. E isso, em si, são para poucas.

Bandas Autorais

As bandas autorais mereceriam uma postagem inteira só para divagar por seus subgrupos. Só para encurtar o assunto e isso não ficar muito extenso agora - em breve, lanço um post só para devanear sobre as Autorais -, estas bandas precisam equilibrar várias atividades para fazer com que seu som, que é o produto, chegue ao público e este compareça aos seus shows.

Acontece que, além de precisar possuir competência musical para tocar o barco, a banda autoral precisa se desdobrar em estratégias de marketing, administração de produtos e etc. O que se torna um acúmulo de atividades para pessoas que não estão recebendo metade do reconhecimento dos seus amigos Cover, tampouco metade da grana e ainda precisam fazer atividades (na maioria empregos formais) por fora para injetar combustível financeiro do projeto.


Regis Tadeu

O Regis Tadeu, em seu canal do Youtube, propôs uma discussão muito legal sobre o tema num vídeo intitulado Bandas Autorais Banda Cover Por Dentro com Paulo Baron. Muito conteúdo importante para integrantes de banda, porém, como não deveria ser diferente quando se trata de opiniões, muito conteúdo perigoso de ser colocado numa mesa.

Acredito que o Regis deveria avaliar melhor a forma como o Baron ataca determinados assuntos, sobretudo quando se está trazendo situações que envolvam bandas iniciantes. O Paulo Baron é um excelente profissional e disso não se tem dúvida, entretanto é um cara que desconhece aquele temido cenário underground, desconhece a realidade que se vive nesta selva em que poucos dão uma mísera atenção e parece que a todo momento quer justificar suas ações no mercado musical, como por exemplo, o fato de introduzir no Brasil o critério de a banda pagar para abrir shows de bandas maiores. Participaram também o Felipe Andreoli (Angra, 4Action e Kiko Loureiro), o Silvano Brancati (proprietário do Manifesto Rock Bar) e o Paul Martins (KISS FM).

Eu gosto de ver esse tipo de debate e discussão, mas não me levem a mal? Em dado momento, pareceu-me um julgamento onde os réus não tinham defesa. Promotores e advogados de parte autora culpando os réus (bandas autorais), por todos os seus insucessos, ante um juiz que até tentou inquirir, mas logo se dobrou em prol da parte autora. No mais, há muito de produtivo de se absorver do debate. De verdade.


O caso não é tão simples

Sim! O caso das bandas autorais não é tão simples como parece. Há muita gente usando a batuta do investimento para fazer integrantes de bandas se descabelarem. Não há uma responsabilidade da parte dessa galera em explicar para as bandas sobre conceitos orçamentários, que não é simplesmente sair gastando dinheiro, dando na mão de qualquer um, que a coisa vai andar. Há muita gente agindo com oportunismo pra vender serviços para pessoas leigas.

Outro ponto que me incomoda é a generalização que mídia e público fazem das bandas autorais que estão na parte baixa da tabela. Falam das bandas como se todas agissem da mesma maneira, como se tivessem a mesma postura e a mesma atitude. Isso fere quem está trabalhando sério, nivela estas pessoas com outras que encaram o meio musical apenas como uma curtição de final de semana. Isso está errado demais.

Ainda sobre a questão do investimento e toda a história que tentam fazer as bandas engolir sobre aposta, fico me perguntando o porquê desse enredo não servir para as duas vias. Por que só as bandas precisam fazer uma aposta? Por que só as bandas precisam investir pra ontem, vender até posses para gravar um disco? Uma casa, uma produtora, não faz um trabalho de pesquisa? Não se aprofunda nos subúrbios através da internet, com a facilidade que nos dá, para buscar quem esteja fazendo um bom trabalho e oportunizar isso? Mais uma vez, não se deve generalizar as bandas autorais, não se deve generalizar as bandas undergrounds. Não se entra numa aposta sozinho. Se uma banda está apostando em algo, é porque há outros envolvidos. Vale ressaltar que se uma casa precisa de grana para fechar as contas no final do mês, uma banda precisa também de grana para sobreviver.


Por que desencantei do cover?

Chegou um momento da minha vida em que percebi que aquilo representava o mesmo do que estar trabalhando num emprego formal para terceiros. Apesar da remuneração, musicalmente rodar com banda cover não estava me trazendo serventia profissional alguma. Já havia extraído bastante tecnicamente daquilo. Rodei praticamente uma década e não ganhei reconhecimento algum com isso, era apenas “Um negão que canta Judas Priest”. Isso só começou a fazer sentido pra mim quando entrei no Facing Fear, após gravar e divulgar o primeiro trabalho. Logo gravamos o Ana Jansen e cada vez mais vejo meu nome se espalhar por aí, apesar dos pesares e pés na frente que encontramos para nos derrubar.

Eu não esqueci e trarei um post falando apenas a respeito das bandas autorais. Mas quero saber da sua opinião. Comente aí ou nas páginas Terry Painkiller e Terry Painkiller Legacy.
Abraços.

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